A X Marcha
da Consciência Negra, com o tema "Por um Brasil sem racismo: A
juventude quer viver", ocupou a região da Avenida Paulista e Rua da
Consolação, na quarta-feira, dia 20, com palavras de ordem e
discursos sobre políticas públicas para igualdade racial.
(Foto: Roberto
Parizotti)
Seguindo para o Vale do Anhangabaú, o evento reuniu a CUT e outras
centrais sindicais, movimentos populares, organizações civis,
estudantes e a população em geral. “A CUT se soma ao conjunto do
movimento negro no Brasil, reforçando a luta que é de todos nós”,
afirmou Maria Júlia Reis Nogueira, secretária nacional de Combate
ao Racismo da CUT. A juventude, para a dirigente, precisa de
atenção especial do poder público. E, para isso, é importante
enfrentar os setores conservadores da sociedade, que não tem isso
como primeira pauta. “Os setores conservadores desse país ainda se
mantêm fortes quando o assunto é população negra. Podemos
demonstrar isso, por exemplo, pelo ato do Banco Central, que obriga
os seus funcionários a trabalhar em um dia considerado feriado na
cidade de São Paulo, desrespeitando uma conquista do movimento. É
por isso que precisamos nos unir e continuar mobilizando para a
luta”, complementou a dirigente.
CONQUISTAS SÃO MUITAS, MAS NÃO BASTAM
Citando os avanços conquistados na última década, como a política
de cotas raciais em Universidades Federais, a proposta de cotas no
serviço público federal e a Lei 10.639, Maria Júlia destacou a
importância da militância se manter em alerta. “Temos muito o que
comemorar, mas não podemos baixar a guarda. Porque os reacionários
desse país não querem avanços para a população negra e tentarão
usurpar mais uma vez nossos direitos. E isso nós não podemos
permitir”, disse.
A opinião de Flávio Jorge, membro da executiva da Coordenação
Nacional de Entidades Negras (CONEN), dialoga com a de Maria Júlia.
Citando a política de saúde para a população negra, o Estatuto de
Igualdade Racial e a criação da Secretaria de Políticas de Promoção
da Igualdade Racial (Seppir), Jorge afirma que isto não basta.
“Quando você cria consciência, você estimula a querer mais. Os
quase um milhão de jovens negros e negras que têm acesso à educação
em nosso país, por meio do PROUNI, por exemplo, agora não querem
que seus amigos da periferia morram. Lutam por melhores vidas não
apenas para eles, mas para todos”, declarou.
O servidor público Cícero Almeida foi à marcha com sua esposa,
Paula, e o filho de dois anos, Davi, como forma de ampliar a
discussão na família e inserir desde cedo a criança em atividades
que valorizem a igualdade. Para ele, a grande conquista é a
construção de uma geração que quebre o ciclo de preconceitos
estabelecidos historicamente. “Tenho um sobrinho com três anos”,
contou Almeida. “Uma vez o levei em uma atividade desse tipo e ele
me falou: ‘Tio, por que aquela pessoa tá pintada de preto?’. Ele
não tinha tido contato com o diferente. Para mim, quanto mais cedo
você coloca a nova geração entendendo as diferenças, mais você
quebra o preconceito na sociedade”, explicou.
MUNDO DO TRABALHO
As centrais sindicais tiveram ala especial para simbolizar questões
trabalhistas. Para Rosana da Silva, secretária de Combate ao
Racismo da CUT SP, a CUT é fundamental na promoção de lutas pela
igualdade racial no trabalho.
Entre as pautas defendidas pela Central, estão o respeito à
convenção 100 da OIT (que trata da igualdade de condições de
trabalho e salários entre homens e mulheres) e à convenção 111
(pelo combate à discriminação racial no ambiente de trabalho), além
da formação do mercado de trabalho para receber a população negra.
“Precisamos formar recursos humanos, formar empresas para receber o
negro sem racismo. Assim vamos mudar esse mercado, que é racista.
Esse é o papel da CUT”, destacou, lembrando que o racismo é
enraizado de tal forma que também se torna urgente a luta pela
democratização da comunicação e pela qualidade da Educação. Nós
temos a questão da visibilidade negra. Nossos jovens precisam criar
uma identidade do que é ser negro”, pontua.
A diretora executiva do Instituto Sindical Interamericano pela
Igualdade Racial (Inspir), Jana Silverman, considerou
"importantíssima" a mobilização, principalmente por ser realizada
em uma data histórica para o País. E constatou que muitos dos
problemas relacionados a negros e mercado de trabalho são
internacionais. “Me lembra muito o que temos em meu país [Estados
Unidos]. Lá, os negros também estão nos trabalhos mais precários,
com os piores salários, concentram os maiores taxas de desemprego e
mais subemprego. É uma desigualdade histórica e internacional”,
detalhou a diretora. Para ela, a solução é mobilizar e
conscientizar a população sobre a temática. Somente com pressão
popular a situação pode ser melhorada.
A questão da mulher negra no ambiente de trabalho também é
importante na discussão do movimento. Rosana Sousa de Deus,
diretora executiva da CUT Nacional, lembrou que, além dos
problemas de remuneração, ainda há o sexismo. “A mulher negra no
Brasil ainda ganha os menores salários e estão nos trabalhos mais
precários. Inclusive, sofre abusos sexuais, pela imagem da mulher
negra que é vendida pela mídia, tanto internamente como no
exterior. É uma luta modificar a imagem que a mulher negra
brasileira tem no mundo”.
OCUPAÇÃO DE ESPAÇO PÚBLICO
Sandra Mariano, da Coordenação Nacional de Entidades Negras
(CONEN), lembrou que por dois anos a marcha não esteve na Avenida
Paulista. “Voltamos para a Paulista nesse décimo ano de marcha, e
queremos dialogar com a sociedade sobre a juventude. Chega de
genocídio da juventude negra”.
Para Paulo Cayres, presidente da Confederação Nacional dos
Metalúrgicos, a ocupação de espaços públicos é natural e deve ser
cada vez mais incentivada. “De fato, o negro está ocupando seu
espaço de direto. Esse ato em que estamos é a reafirmação dos seus
direitos”, afirmou.
Entre as reafirmações do direito da população negra, a diretora da
APEOESP e coordenadora do Coletivo Nacional de Combate ao Racismo
da CNTE, Anatalina Lourenço, destacou o que seria a principal pauta
da população negra no momento: o extermínio da juventude negra.
“Sempre trazemos questões sobre Educação, que são fundamentais.
Este ano, o tema é muito forte: o extermínio da juventude negra,
que está sofrendo os maiores ataques nas regiões mais pobres. Não é
só o movimento que está dizendo. É a ONU, a Unesco, o governo
brasileiro, quando institui o projeto Juventude Viva. É a
realidade”, declarou.
Juliane Cintra, militante da área da Educação, concorda com o
destaque dado ao extermínio da juventude nas periferias. Para ela,
um aspecto fundamental no fato de haver mobilização é o estímulo à
abertura de debate com a sociedade. “Percebi que estão tendo
mobilizações na periferia também, acho que o momento é muito rico.
E a grande pauta, hoje, é o extermínio da juventude negra na
periferia. Não tem como negar, o assunto está dado”, declarou.
Segundo o 4º Boletim de Análise Político-Institucional (Bapi), do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em
outubro, um jovem negro tem 3,7 vezes mais chances de ser vítima de
homicídio do que um não-negro. Ainda segundo o estudo, a
expectativa de vida de um brasileiro negro é menor que a de um
branco.
Anatalina questionou os discursos dos que afirmam que os negros
deveriam mudar o nome da marcha para algo mais genérico, para
abranger "toda a humanidade". “Digo e reafirmo que essa marcha é
negra. Racismo é inerente ao capitalismo? Sim. Mas vai mais além. A
classe trabalhadora tem cor e diferença de remuneração. E é só
pegar a pesquisa do Dieese, que não nos deixa mentir”. Segundo a
pesquisa citada pela coordenadora, a região metropolitana menos
desigual em relação a salários é a de Fortaleza, onde negros
recebem até 75,66% do salário de não negros. Na região
metropolitana de Salvador está a maior disparidade: negros recebem,
em média, 59,86% do que os não negros.
POLÍCIA
A Polícia Militar acompanhava a marcha, formando um corredor que
tinha seu centro ocupado pelos militantes. Os presentes se
manifestaram contra a presença da polícia. “Nos atacam na periferia
e dizem que vem nos proteger na Paulista?”, questionou um
jovem.
Para Rosana Sousa de Deus, diretora executiva da CUT Nacional, a
forma como a polícia estava organizada é simbólica. “Somos negros,
simbolizamos o estereótipo da periferia. Por isso aliam a imagem a
um perigo iminente. A forma de organização deles nessa marcha,
diferente de como é em outras manifestações, é simbólica”,
declarou.
Após negociação das lideranças da marcha com os militares, a
polícia aceitou se retirar e se reservou à função de parar o
trânsito para a passagem do movimento.
SOLIDARIEDADE
Um trabalhador derrubou o isopor em que carregava água e outras
bebidas em meio à manifestação. A marcha parou e os militantes
ajudaram a recolher tudo. “Ainda bem que o pessoal ajudou o
trabalhador. Se fosse em outras manifestações, teria gente correndo
com a bebida”, afirmou o vendedor.
MÍDIA
As redes de televisão que cobriam a marcha durante a caminhada
ouviram reclamações de um grupo de manifestantes que repetia em
coro: “Cadê a repórter preta? Cadê o fotógrafo preto?”
Com informações da CUT
Nacional
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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