O Portal CNTT divulga a seguir
artigo do ex-presidente Lula
sobre o papel do Estado na economia
global.
"A crise atual pode ter
uma saída economicamente mais rápida e socialmente mais justa. Mas
isso exige dos líderes políticos a mesma audácia e visão de futuro
que prevaleceu na década de 1930", afirma Lula. Leia a
seguir:
A lenta
retomada da economia global e os seus enormes custos sociais,
especialmente nos países desenvolvidos exigem uma corajosa mudança
de atitude. É preciso identificar com clareza a raiz da crise de
2008, que em muitos aspectos se prolonga até hoje, para que os
líderes políticos e os órgãos multilaterais façam o que deve ser
feito para superá-la.
A verdade é que, no dia 15 de setembro de 2008, quando o banco
Lehman Brothers pediu concordata, o mundo não se viu apenas
mergulhado na maior crise financeira desde a quebra da Bolsa de
Nova York em 1929. Viu-se também diante da crise de um
paradigma.
Outros grandes bancos especuladores nos Estados Unidos e na Europa
só não tiveram o mesmo destino porque foram socorridos com
gigantescas injeções de dinheiro público. Ficou evidente que
a crise não era localizada, mas sistêmica. O fracasso não era
somente desta ou daquela instituição financeira, mas do próprio
modelo econômico (e político) predominante nas décadas recentes. Um
modelo baseado na ideia insensata de que o mercado não precisa
estar subordinado a regras, de que qualquer fiscalização o
prejudica e de que os governos não tem nenhum papel na economia, a
não ser quando o mercado entra em crise.
Segundo este paradigma, os governos deveriam transferir a sua
autoridade democrática, oriunda do voto – ou seja, a sua
responsabilidade moral e política perante os cidadãos – a técnicos
e organismos cujo principal objetivo era o de facilitar o livre
trânsito dos capitais especulativos.
Cinco anos de crise, com gravíssimo impacto econômico e sofrimento
popular, não bastaram para que esse modelo fosse repensado.
Infelizmente, muitos países ainda não conseguiram romper com os
dogmas que levaram ao descolamento entre a economia real e o
dinheiro fictício, e ao círculo vicioso do baixo crescimento
combinado com alto desemprego e concentração de renda nas mãos de
poucos.
O mercado financeiro expandiu-se de modo vertiginoso sem a
simultânea sustentação do crescimento das atividades produtivas.
Entre 1980 e 2006, o PIB mundial cresceu 314%, enquanto a riqueza
financeira aumentou 1.291%, segundo dados do McKinseys Global
Institute e do FMI. Isso, sem incluir os derivativos. E, de acordo
com o Banco Mundial, no mesmo período, para um total de US$ 200
trilhões em ativos financeiros não derivados, existiam US$ 674
trilhões em derivativos.
Todos sabemos que os períodos de maior progresso econômico, social
e político dos países ricos durante o século XX não tem nada a ver
com a omissão do Estado nem com a atrofia da política.
A decisão política de Franklin Roosevelt, de intervir fortemente na
economia norte-americana devastada pela crise de 1929, recuperou o
país justamente por meio da regulação financeira, o investimento
produtivo, a criação de empregos e o consumo interno. O Plano
Marshall, financiado pelo governo norte-americano na Europa, além
de sua motivação geopolítica, foi o reconhecimento de que os EUA
não eram uma ilha e não poderiam prosperar de modo consistente num
mundo empobrecido. Por mais de trinta anos, tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos, o Welfare State foi não apenas o
resultado do desenvolvimento mas também o seu motor.
Nas últimas décadas, porém, o extremismo neoliberal provocou um
forte retrocesso. Basta dizer que, de 2002 a 2007, 65% do
aumento de renda dos EUA foram absorvidos pelos 1% mais ricos. Em
quase todos os países desenvolvidos há um crescente número de
pobres. A Europa já atingiu taxas de desemprego de 12,1% e os EUA,
no seu pior momento, de mais de 10%.
O brutal ajuste imposto à maioria dos países europeus – que já foi
chamado de austericidio – retarda desnecessariamente a solução da
crise. O continente vai precisar de um crescimento vigoroso para
recuperar as dramáticas perdas dos últimos cinco anos. Alguns
países da região parecem estar saindo da recessão, mas a retomada
será muito mais lenta e dolorosa se forem mantidas as atuais
políticas contracionistas. Além de sacrificar a população europeia,
esse caminho prejudica inclusive as economias que souberam resistir
criativamente ao crack de 2008, como os EUA, os BRICS e grande
parte dos países em desenvolvimento.
O mundo não precisa e não deve continuar nesse rumo, que tem um
grande custo humano e risco político. A redução drástica de
direitos trabalhistas e sociais, o arrocho salarial e os elevados
níveis de desemprego criam um ambiente perigosamente instável em
sociedades democráticas.
Está na hora de resgatar o papel da política na condução da
economia global. Insistir no paradigma econômico fracassado também
é uma opção política, a de transferir a conta da especulação para
os pobres, os trabalhadores e a classe média.
A crise atual pode ter uma saída economicamente mais rápida e
socialmente mais justa. Mas isso exige dos líderes políticos a
mesma audácia e visão de futuro que prevaleceu na década de 1930,
no New Deal, e após a II Guerra Mundial.
É importante que os EUA de Obama e o Japão de Shinzo Abe estejam
adotando medidas heterodoxas de estímulo ao crescimento. Também é
importante que muitos países em desenvolvimento tenham investido, e
sigam investindo, na distribuição de renda como estratégia de
avanço econômico, apostando na inclusão social e na ampliação do
mercado interno. O aumento de renda das classes populares e a
expansão responsável do crédito mantiveram empregos e neutralizaram
parte dos efeitos da crise internacional no Brasil e na América
Latina. Investimentos públicos na modernização da infraestrutura
também foram fundamentais para manter as economias aquecidas.
Mas para promover o crescimento sustentado da economia mundial isso
não é suficiente. É preciso ir além. Necessitamos hoje de um
verdadeiro pacto global pelo desenvolvimento, e de ações
coordenadas nesse sentido, que envolvam o conjunto dos países,
inclusive os da Europa.
Políticas articuladas em escala mundial que incrementem o
investimento público e privado, o combate à pobreza e à
desigualdade e a geração de empregos podem acelerar a retomada do
crescimento , fazendo a roda da economia mundial girar mais
rapidamente.
Elas podem garantir não só o crescimento, mas também bons
resultados fiscais, pois a aceleração do crescimento leva à redução
do déficit público no médio prazo. Para isso, é imprescindível a
coordenação entre as principais economias do mundo, com iniciativas
mais ousadas do G-20. Todos os países serão beneficiados com essa
atuação conjunta, aumentando a corrente de comércio internacional e
evitando recaídas protecionistas.
A economia do mundo tem uma larga avenida de crescimento a ser
explorada: de um lado pela inclusão de milhões de pessoas na
economia formal e no mercado de consumo – na Ásia, na África e na
América Latina – e de outro com a recuperação do poder aquisitivo e
das condições de vida dos trabalhadores e da classe média nos
países desenvolvidos. Isso pode constituir uma fonte de expansão
para a produção e o investimentos mundiais por muitas décadas.
Com
informações do Instituto Lula
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
Redação CNTTL
Mídia Consulte Comunicação &Marketing
Editora e Assessora de Imprensa: Viviane Barbosa MTB 28121
WhatsApp: 55 + (11) 9+6948-7450
Assessoria de Tecnologia da Informação e Website: Egberto Lima
E-mail: viviane@midiaconsulte.com
Redação: jornalismo@midiaconsulte.com
Siga a CNTTL nas redes sociais:
www.facebook.com/cnttloficial
www.twitter.com/cnttloficial
www.youtube.com/cnttl
Mídia
Canal CNTTL