O Portal
CNTT/CUT divulga a seguir um artigo publicado pela Carta Maior, no
último domingo, dia 23, em que o professor da faculdade de Economia
UFF, Victor de Araújo, fala sobre a onda de protestos nas Capitais
de todo o Brasil. Araújo enfatiza que os manifestantes esqueceram
de falar sobre os “empresários de ônibus” que são favorecidos pelo
modelo atual do governo. Confira a seguir:
“Nos protestos que tomaram conta do país nos últimos dias, um ator
foi praticamente esquecido: o empresário de ônibus. Entre os
prefeitos que anunciaram redução da tarifa – ou melhor, o retorno
da tarifa ao preço vigente antes dos aumentos – um elemento era
comum ao discurso de todos: a passagem mais barata para o usuário é
custeada pelo poder público na forma de subsídio às empresas, e por
isso a alocação de maiores recursos nesses subsídios
necessariamente implicará em corte de outras despesas –
provavelmente os investimentos, que constitui a parte dos
orçamentos de maior discricionariedade. A outra alternativa seria a
criação de impostos ou contribuições adicionais, descartada devido
à dificuldade política que propostas desta natureza embutem, neste
momento delicado. A agenda foi permeada pelos debates a respeito da
inexistência de uma política de transportes públicos, e na baixa
qualidade do serviço ofertado à população. É evidente que a enorme
insatisfação enseja um debate maior a respeito da ocupação do
espaço urbano e na busca por soluções duradouras. Mas curiosamente,
a solução para a demanda mais imediata, que foi a revogação do
aumento da tarifa, foi encaminhada sem chamar à mesa o empresário
de ônibus. Este ator ficou esquecido, como se não fosse ele o
provedor do principal serviço de transporte coletivo urbano.
Até a tarde de sexta-feira, dia 21/06, a página principal da
Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do
Rio de Janeiro (Fetranspor) não registrava qualquer nota a respeito
dos protestos ocorridos, como se nenhuma relação tivesse com os
protestos. A mesma omissão observava-se na página do Sindicato das
Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São
Paulo.
Quando se assume a priori que tarifas menores implicam subsídios
maiores e cortes em outras modalidades de gastos, assume-se como
dada a margem de lucro do empresário de ônibus, algo em que não se
pode mexer. A revogação do aumento de passagem não acarretou nenhum
ônus ao empresário de ônibus. O ônus recai inteiramente sobre as
finanças públicas – e à população, que, na lógica perversa já
assumida pelos prefeitos, terá que aceitar que menos recursos
públicos sejam alocados em outros serviços essenciais.
Não é preciso um esforço muito grande para perceber que o atual
modelo redistribui renda a favor dos empresários. O sistema
tributário já é regressivo, porque a estrutura tributária é
preponderantemente concentrada em impostos que recaem sobre a
produção e o consumo, em vez de recaírem sobre a propriedade. Para
as finanças públicas municipais, o quadro é ainda mais perverso,
porque os municípios têm pouca capacidade de tributar a
propriedade. Em suma, apenas uma parte muito pequena do custo do
subsídio recai sobre os mais ricos – os que têm maior capacidade de
pagamento e que utilizam-se de veículos particulares em seu
transporte, e que por isso teriam de arcar com o maior custo. E o
que é pior: a manutenção da margem de lucro do empresário de
ônibus, mesmo depois de um momento de forte turbulência social,
revela o enorme poder que este segmento possui. Os prefeitos, ao
que parece, estão dispostos a assumir todo o ônus da redução, ou no
máximo compartilhá-lo com outras esferas da administração pública,
mas jamais com os empresários.
O quadro fica ainda mais grave quando se tem em conta que, de
janeiro de 2000 a maio de 2013, o preços dos transportes urbanos
subiram sistematicamente acima da inflação média. Os dados são os
seguintes: a inflação acumulada pelo Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) no período mencionado foi de 133%; o sub-item ônibus
urbano subiu 197%, e ônibus intermunicipal subiu 193%. Em 9 de 13
anos o sub-item ônibus urbano subiu mais que a média do IPCA, e
desde 2006 sobe mais que o sub-item óleo diesel – salvo,
curiosamente, os anos em que ocorrem eleições municipais, como em
2008 e 2012. Como a estrutura salarial dos motoristas, cobradores e
fiscais aproxima-se das faixas salariais mais baixas – oscilando em
torno de 1 a 3 salários mínimos – não é difícil inferir que o setor
opera com margens elevadas.
Entretanto, as conclusões precisas somente serão feitas se as
famigeradas planilhas de custos do setor (perdoem-me pelo
lugar-comum) forem abertas e expostas à sociedade depois de
devidamente investigadas em comissões parlamentares de inquérito e
auditorias externas".
Professor da Faculdade de Economia da UFF. E-mail:
victor_araujo@terra.com.br
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
Redação CNTTL
Mídia Consulte Comunicação &Marketing
Editora e Assessora de Imprensa: Viviane Barbosa MTB 28121
WhatsApp: 55 + (11) 9+6948-7450
Assessoria de Tecnologia da Informação e Website: Egberto Lima
E-mail: viviane@midiaconsulte.com
Redação: jornalismo@midiaconsulte.com
Siga a CNTTL nas redes sociais:
www.facebook.com/cnttloficial
www.twitter.com/cnttloficial
www.youtube.com/cnttl
Mídia
Canal CNTTL