Em artigo
publicado inicialmente pelo Portal da CUT Nacional, o presidente da
Federação Nacional dos Portuários e secretário-adjunto de Saúde da
CUT, Eduardo Guterra, explica o atual sistema de comando dos
portos, no qual a operação é privada e a administração continua
sendo pública, e se coloca contra a privatização. Para ele, o
governo estaria vendendo a parte do Estado, inclusive da terra e da
Autoridade Portuária, para a rede privada. Leia abaixo o
artigo, na íntegra:
Privatização
da gestão portuária: governo não deve ceder aos interesses privados
e de grandes oligopólios
Os portos são
totalmente operados pela iniciativa privada. Todas as operações
relacionadas à passagem da mercadoria (ou de passageiros) desde o
transporte marítimo até o terrestre e vice-versa são realizadas por
agentes privados. Os portos brasileiros pertencem à União, cabendo
a ele próprio operá-lo ou concede-lo a iniciativa
privada.
No complexo
portuário público, existem diferentes operadores dentro da chamada
“área do porto organizado”, que é Administrada e gerida por uma
Autoridade Portuária. Cabendo a ela, regular e fiscalizar as
empresas operadoras portuárias na execução dos contratos, é
responsável pelo controle da segurança nas fronteiras portuárias,
combatendo o tráfico de drogas e o crime organizado junto às demais
autoridades governamentais, pela proteção ao trabalho portuário e
ao meio-ambiente, bem como, articular políticas com objetivo de
promover a integração do porto com a cidade. Sem dúvidas, uma
atividade tipicamente de estado. No Brasil temos 37 Portos
Públicos, dos quais, 18 são administrados por Companhias DOCAS
Federais ligadas diretamente à Secretaria de Portos (SEP), 18 têm
sua operação autorizada, delegada, ou concedida aos governos
estaduais e municipais.
Os Terminais
de Uso Privativo não oferecem o serviço público, pois só movimentam
suas próprias cargas. Os TUPs, como são reconhecidos, foram
concebidos para atender situações em que o escoamento da produção
de uma empresa constitui um elo de sua cadeia produtiva, no caso, a
movimentação de cargas próprias é parte da extensão da mesma.
Citamos por exemplo, a Transpetro, operadora da Petrobras que
possui terminais próprios, assim também como a Vale, Bunge, Cargill
e tantas outras, com esse perfil. Existem hoje em operação 101
Terminais de Uso Privativo.
Os Terminais
Públicos de Uso Privado, dentro da Área de Porto Organizado, são
concessões privadas sempre por meio de licitações, cabendo a estes
o respeito ao trabalho portuário avulso que é gerido pela
iniciativa privada através dos OGMOs – Órgãos gestores de mão de
obra do trabalho portuário. São estes que movimentam quase que
todos os Contêineres nos portos brasileiros. Citamos a Santos
Brasil, a Libra o Tecondi, a Login, e etc. Nos portos considerados
mais importantes, existem estes terminais e são responsáveis pela
operação de contêineres nas importações e exportações
brasileiras.
Este modelo
que o Brasil adotou com a Lei n. 8.630 de 1993 chama-se Landlord
Port ou porto proprietário da terra, onde o governo por meio da
Autoridade Portuária administra a infraestrutura (berços de
atracação e desatracação de navios, píeres, dragagem no canal de
acesso ao porto, etc.) sendo responsável pela gestão portuária. A
iniciativa privada cabe os investimentos na superestrutura
portuária (armazéns, prédios, guindastes, etc.).
Este é o
modelo predominante no mundo. Holanda, Bélgica, Alemanha, Espanha e
USA, para citar alguns. Só há dois casos de portos totalmente
privatizados: os da Inglaterra, que durante o governo da Margaret
Thatcher foram totalmente privatizados e os da Nova Zelândia, e
nenhum dos dois aparecem em quaisquer estáticas que denominam a
eficiência portuária mundial. Inclusive o Banco Mundial, critica o
modelo principalmente pela dificuldade de se pensar e executar o
planejamento estratégico do setor portuário, e a intermodalidade de
um país.
Assim, causa
alarme refletir sobre as notícias que estão tendo ampla divulgação
na imprensa nacional acerca da suposta pretensão do governo atual
de privatizar os portos brasileiros e/ou lançar pacotes para
alterar a forma de concessão e funcionamento do atual modelo
portuário.
Primeiramente,
porque, os portos já foram privatizados, como mencionado
anteriormente, a operação é privada e a administração continua
sendo pública. Então, se fosse para falar em privatização
novamente, teria que se falar em intensificar o grau de abertura à
iniciativa privada no modelo portuário, o que significaria a venda
por parte do Estado do restante do seu patrimônio, inclusive da
terra e da Autoridade Portuária (AP) ao setor privado, situação que
seria, no mínimo, contraditória pela própria natureza e funções
desta última, com poderes de regulação e fiscalização dos
operadores portuários privados na execução dos
contratos.
Em segundo
lugar, o negócio portuário constitui um monopólio natural, pois
requer investimentos de grande porte para ser eficiente, o qual
impõe uma barreira de entrada, limitando o número de participantes,
e a necessidade de o Estado garantir tais investimentos. O fato de
ter como contrapartida o aproveitamento de economias de escala,
onde os custos fixos se diluem na medida em que aumenta a
movimentação, e de que, dentro de sua área de influência, os
usuários do serviço não tenham outras opções também denotam sua
feição monopolística. Aqui reside também a importância do papel do
Estado como agente regulador que garanta tarifas módicas e
tratamento isonômico aos usuários, sejam estes grandes ou pequenos
exportadores / importadores.
Pressões no
sentido de mudar o funcionamento atual do sistema portuário
brasileiro respondem apenas a interesses privados e grandes
oligopólios, principalmente multinacionais que muito possivelmente
tenham somente em vista a lucratividade dos terminais de
contêineres, e liberdade total para impor preços e condições para
atender as demandas do comercio exterior, totalmente desvinculados
dos interesses do país, e alguns tigres de papel, que na verdade
não tem condições de investir na infraestrutura e nem na
superestrutura portuária sobrevivendo somente para defender
interesses ilegítimos.
Até o governo
do Presidente Lula, a Logística nunca foi prioridade para um
projeto nacional e enxergada como uma visão de estado. A criação da
Agenda Portos, do Programa Nacional de Logística de Transportes, da
Secretaria Especial de Portos, da retirada das Cias Docas do PND de
FHC impulsionou o setor e trouxeram uma nova visão da sociedade
para a importância do Comercio exterior.
Sem contar o
Reporto e outras iniciativas de incentivos ao Comercio Exterior,
dados da Secretaria de Portos (SEP) indicam previsão investimento
de R$ 6 bilhões 341 milhões em obras relacionadas ao PAC2 que serão
concluídas até 2014. Trata-se de investimentos destinados
à:
-
manutenção e melhoramento da infraestrutura de portos estratégicos
e complementares (dragagem de aprofundamento, ampliação de moles,
construção de terminais, etc.); e
-
inteligência portuária, na implantação do “Porto sem Papel”,
sistemas para o melhoramento da logística, tráfego e gerenciamento
de dados e o programa de gerenciamento de resíduos sólidos e
efluentes.
Respaldando
as afirmações de que os portos brasileiros estão respondendo a
política dos investimentos do Governo Federal, trazemos as
seguintes informações:
-
Os 18 portos federais movimentaram mais de 201 milhões de toneladas
em 2011, 65% do total movimentado pelos portos públicos
brasileiros. Em termos de valor movimentado pelos portos
públicos, aproximadamente 63% passaram por portos
federais.
-
Em janeiro de 2012 o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (MDIC) anunciou que em 2011 a balança comercial
brasileira tinha batido recordes, a despeito da crise
internacional: US$ 256,0 bilhões em exportações e US$ 226,2 bilhões
em importações, valores que significam aumentos de 26,8% e 24,5%,
respectivamente, em relação a 2010.
-
O valor gerado pela corrente do comércio exterior (exportações +
importações) superou os US$482 bilhões em valores FOB, montante que
representa aumento de 25,7% em relação a 2010. Ao analisar a
evolução da corrente de valor nominal gerada pelo comércio exterior
desde 2003, percebe-se crescimento médio de 26,7% ao ano . O valor
nominal gerado em 2003 praticamente quadriplicou em
2011.
-
O comércio exterior no Brasil cresceu mais do que o PIB no primeiro
trimestre de 2012. Enquanto que o produto interno bruto cresceu
0,2% em relação ao último trimestre de 2011, as exportações
cresceram 6,6% e as importações 6,3%, o que aponta dinamismo no
setor.
-
O valor total gerado pela corrente do comércio exterior em 2011, as
estimativas apontam que 79% passaram pelo conjunto de portos
brasileiros. Ao considerar a movimentação por peso (em toneladas) a
participação dos portos no comércio exterior passa para
95%.
-
Entre 1998 e 2011 a movimentação geral de cargas nos portos e
terminais brasileiros dobrou. Em 2011 foram 6,25% superior a 2010.
Se considerarmos a taxa acumulada do PIB em 2011 (2,7%), pode-se
dizer que o setor portuário apresentou crescimento superior a duas
vezes a taxa de crescimento do PIB em 2011.
-
Dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2010
indicam que ao todo há 38.488 trabalhadores diretos no setor
portuário, entre trabalhadores na administração da infraestrutura
portuária, operação de terminais e avulsos.
-
Dados da Secretaria de Portos (SEP) indicam previsão de
investimento de R$ 6 bilhões 341 milhões em obras relacionadas ao
PAC2 que serão concluídas até 2014. Trata-se de investimentos
destinados à:
-
manutenção e melhoramento da infraestrutura de portos estratégicos
e complementares (dragagem de aprofundamento, ampliação de molhes,
construção de terminais, etc.); e
-
inteligência portuária, que compreende o Plano Nacional de
Logística Portuária (PNLP), a implementação do “Porto sem Papel”,
sistemas para o melhoramento da logística, tráfego e gerenciamento
de dados e o programa de gerenciamento de resíduos sólidos e
efluentes.
A seguir,
propomos pontos que poderão ter o respaldo verdadeiro da sociedade
brasileira.
-
Fortalecimento da gestão portuária pública por resultados e
profissional, com a valorização dos recursos humanos e o
afastamento de interferências político partidárias na administração
dos portos públicos;
-
Licitação dos contratos de exploração de áreas portuárias
anteriores á lei 8.630/93;
-
Licitação de um novo Porto em Manaus-AM, do Terminal de Contêineres
em Vitória-ES e na Bahia, tendo como referencia legal o Decreto
Presidencial 6.620/2008;
-
Resolução definitiva da situação do Plano de Beneficio do Sistema
Portus de previdência complementar;
-
Mais investimento em Logística buscando o equilíbrio nos modais
para facilitar o escoamento da produção, apostando nos meios de
transportes que não degradam o meio ambiente, barateando os custos
empresas portos.
Os portos constituem ativos estratégicos que requerem planejamento á médio e logo prazo para funcionar com eficiência, para que toda a sociedade possa se beneficiar dos seus resultados, por isso acreditamos que a Presidente Dilma não vai atender aos grandes oligopólios, que sempre se beneficiaram de um estado condescendente e que nunca contribuíram para um verdadeiro projeto de desenvolvimento econômico com distribuição de renda e justiça social no Brasil.
*Artigo de Eduardo Guterra, presidente da Federação Nacional dos Portuários e secretário-adjunto de Saúde do Trabalhador da CUT.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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