“Sou agente de trânsito e o meu dever é fazer com que se cumpra a lei”
A frase é da agente de trânsito, Damiana Candido, que atua na profissão há 24 anos.
Publicação: 01/09/2010
Na série
“As Mulheres trabalhadoras no transporte” desta semana, o Portal
CNTT entrevistou a agente de trânsito (ou marronzinha, como
popularmente conhecemos) da Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET) de São Paulo, Damiana Candido, que também é diretora
doSindicato dos Trabalhadores no Sistema de
Operação, Sinalização, Fiscalização, Manutenção e Planejamento
Viário e Urbano no Estado de São Paulo (Sindviários-CUT). “Sou
agente da autoridade de trânsito e tenho o dever de fazer com que
se cumpra a lei”, essa foi uma das declarações da trabalhadora
viária ao falar sobre sua profissão, defendendo-se das más
manifestações dos motoristas que voltam pra casa com uma multa a
mais no bolso.
A cidade de São Paulo, considerada uma das maiores metrópoles do
mundo, ao longo de 2009 acumulou 6,2 milhões de multas de trânsito,
quantidade 33,6% superior à de 2008. Dessas autuações emitidas,
53,91% foram registradas por equipamentos eletrônicos, 35,1%, foram
assinaladas pelos agentes da CET e 11%, por policiais militares.
Dinheiro que não sabemos para onde vai, afinal as ruas de São Paulo
estão caos (repleta de buracos) e não há uma política de transporte
viário que minimize os impactos dos grandes congestionamentos. Apesar do
mau tratamento por parte dos motoristas, a trabalhadora da CET-SP
garante que vai para casa tranquila e com a sensação do dever
feito. Leia mais a seguir.
CNTT-CUT: O que lhe motivou a escolha desta
profissão? Damiana Candido: Na verdade,
eu não escolhi esta profissão. Na época eu estava desempregada, a
minha mãe conseguiu uma vaga na CET para mim e acabei gostando.
Estou nesta profissão há 24 anos.
CNTT-CUT: Já sofreu algum preconceito por ser mulher? Conte para a
gente como foi o episódio. Damiana: Sim, sofri o
preconceito ao ouvir calúnias do tipo “mulher só serve para pilotar
fogão”, além de muitos palavrões. Também já sofri preconceitos
racistas, fui chamada de “preta nojenta”. Certa vez, no
Mercado Municipal, uma moça tentou me bater porque eu autuei o
seu carro, já que ela estava na contramão e não aceitava
a infração. Mas nunca sofri qualquer agressão física, graças a
Deus.
CNTT-CUT: Quais foram as dificuldades para exercer a profissão?
Damiana: Não tenho nenhuma dificuldade, adoro o que
faço. Trabalhar com o público é muito gratificante, todo dia
conhecemos pessoas diferentes. Porém, no primeiro minuto em que sou
elogiada, logo em seguida sou xingada, o brasileiro não é
educado o suficiente no trânsito e age de várias maneiras
tentando nos agredir. Os motoristas acham que nós só estamos lá
para puni-los e é assim. Nós orientamos, educamos e a autuamos
em último caso. Nós somos agentes da autoridade de trânsito e temos
que fazer que se cumpra a lei de trânsito.
CNTT-CUT: Para as mulheres que sonham em trabalhar nesta profissão,
quais conselhos você daria? Damiana: Que tenham
equilíbrio e que gostem de
trabalhar com pessoas, pois a maioria acha que só eles mesmos
têm razão. A CET trabalha com vidas e com a vida não se brinca
nunca.
CNTT-CUT: Caso queira completar alguma informação, fique à
vontade.
Damiana: A CET é uma ótima empresa, tenho vários amigos
aqui. Na questão do preconceito, eu não levo para o pessoal, pois
os motoristas xingam o meu uniforme e não a minha pessoa, vou
para casa tranquila com o meu dever feito.
Viviane Barbosa, editora do Portal da CNTT-CUT, com a colaboração
de Geisi Santos