O levantamento foi feito pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).
Publicação: 24/02/2010
O Instituto
de Logística e Supply Chain (Ilos), em pesquisa com 187 grandes
empresas exportadoras e importadoras, revelou um conjunto de
ineficiências em alguns portos brasileiros. Recentes matérias do
“Estadão” mostraram que os problemas são frutos dos muitos anos de
abandono pelo poder público, especialmente pela União.
O governo FHC - além de não realizar investimentos no sistema
portuário, como dragagem e melhoria dos acessos - colocou todas as
Companhias Docas no Plano Nacional de Desestatização. A ideia
básica, como nas demais áreas de infra-estrutura, era jogar para
estados, municípios, para a iniciativa privada e para os usuários o
financiamento de setor tão estratégico para o crescimento da
economia brasileira. O Governo Lula mudou completamente esse
quadro, assumindo os investimentos, mesmo nos portos geridos por
outras esferas de governo, como de responsabilidade da União.
Em 2004, o governo Lula criou a “Agenda Portos”, que mapeou as
fragilidades do sistema e as medidas necessárias para superá-las.
Desde então, os investimentos públicos e privados nos portos
públicos foram crescentes e sempre no sentido de eliminar gargalos
e preparar os portos para uma nova realidade de crescimento
acelerado da economia e do comércio exterior.
No período 1997-2008, o PIB brasileiro cresceu 80,6% e a corrente
de comércio exterior 232,2%, sendo que grande parte no período
2003-2008. O sistema portuário brasileiro contribuiu positivamente
para isso. Dizia-se, em 2004, que haveria um apagão logístico nos
portos brasileiros, caso a economia crescesse acima de 3% ao ano. O
crescimento foi maior, nos anos seguintes e até a crise mundial de
2008, e o sistema portuário atendeu à demanda, ainda que num
patamar de qualidade abaixo do desejado, devido aos longos anos sem
investimento.
O Ministro Pedro Britto, na entrevista “Em três anos estaremos
entre os 20 melhores”, mostrou um conjunto de intervenções –
investimentos e medidas institucionais - que permitirão
melhorar o sistema portuário brasileiro. Em relação à carga
conteinerizada, que representa 70% da carga geral, destaca-se as
principais ações dos governos (federal, estadual e municipal)
responsáveis pela gestão dos portos públicos brasileiros,
combinadas com investimentos pesados das empresas privadas que
operam no:
a) Aumento da profundidade dos canais de
acesso e das áreas de atracação para o mínimo de 15 metros
(investimento público).
b) Aumento da quantidade de berços de atracação, das retro-áreas e
das extensões dos berços (investimento público e privado). Os
operadores privados dos portos públicos têm projetos para investir
mais US$ 4 bilhões, até 2015, especialmente para essas obras de
expansão dos terminais de contêineres.
c) Como mencionou o Ministro Pedro Britto, “vamos iniciar a partir
de abril o programa Porto Sem Papel nos portos de Santos, Vitória e
Rio de Janeiro.” Esse programa vai unificar a demanda de
informação. Essa é uma importante medida institucional, que
permitirá agilizar os procedimentos burocráticos e, como
conseqüência, otimizar os tempos e movimentos da carga no porto
organizado.
d) Os principais portos brasileiros estão com obras em andamento
para melhorar os acessos rodoviários e ferroviários. O principal
exemplo é a obra da Perimetral de Santos (investimento
público).
e) Os principais portos, como Paranaguá, estão
implantando sistemas de agendamento para caminhões, que acabará com
as filas e tempos de espera excessivos.
Além dos investimentos na expansão e aumento da eficiência nos
portos públicos, os terminais de uso privativo estão operando
normalmente na movimentação das cargas próprias. Esses terminais
têm um papel importante para o crescimento da economia brasileira,
especialmente na movimentação de granéis líquidos e sólidos.
Alguns problemas dizem respeito à logística dos embarcadores,
especialmente de grãos. Como ainda é insuficiente a quantidade de
silos junto às áreas de produção ou de embarque, para armazenar e
regular o fluxo desse tipo de produto, em muitos casos, os
embarcadores contratam caminhões e enviam suas cargas sem a
garantia de que haverá condições para embarque no porto,
transformando os caminhões em silos ambulantes e gerando filas,
congestionamentos e tempos de espera desnecessários. Em alguns
portos, enquanto não se implantam sistemas de agendamento, estão
sendo viabilizadas áreas de espera para caminhões, onde estes ficam
aguardando sua hora de descarregar, sem fazer pressão nas vias de
acesso rodoviário aos portos e sem interferir negativamente na vida
da cidade.
Os entrevistados na pesquisa da ILOS gostariam que suas cargas
chegassem ou partissem do porto de sua escolha. Infelizmente, no
Brasil, ainda não temos implantado o conceito de “hub-port”, tal
como ele é praticado na Europa e Ásia, porque os armadores de
bandeira estrangeira não podem realizar a movimentação de
cabotagem. Essa operação permitiria que as cargas provenientes ou
destinadas ao exterior pudessem ser distribuídas pelos demais
portos, por navios menores desses mesmos armadores. Se a legislação
for alterada, permitindo esse movimento, todos os problemas
relatados estarão resolvidos. Esperar que os grandes navios
percorram todos os portos brasileiros ainda é um sonho de difícil
realização.