Um artigo publicado recentemente no
International Journal of Cancer por um grupo do Fox Chase Cancer
Center, dos Estados Unidos, em parceria com pesquisadores da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ajuda a entender
melhor as transformações que ocorrem com as células mamárias
durante a gravidez que as tornam menos suscetíveis ao surgimento de
tumores.
A pesquisa foi feita com amostras de tecido mamário de mulheres
saudáveis entre 50 e 69 anos que já estavam havia pelo menos um ano
sem menstruar. As amostras foram divididas em dois grupos: 42
mulheres que nunca tiveram filhos e foram classificadas como
nulíparas e 71 mulheres que tiveram um ou mais filhos e ficaram
grávidas pela primeira vez aos 23 anos em média (com variação de
4,25 anos para mais ou para menos).
Por meio de uma série de análises, os pesquisadores buscaram
avaliar se havia diferenças morfológicas e no padrão de expressão
dos genes no tecido mamário dos dois grupos. Maria Luiza Silveira
Mello e Benedicto Campos Vidal, da Unicamp, ficaram responsáveis
por avaliar a supraorganização da cromatina no núcleo das
células.
“A cromatina é a estrutura que contém o DNA. Ela forma
complexos com proteínas (entre elas, as histonas) e com diversos
tipos de pequenos RNAs. Quando a célula entra em processo de
divisão, a cromatina se compacta na forma de cromossomo”, explicou
Mello.
As análises feitas pelos pesquisadores da Unicamp, com apoio da
FAPESP, mostraram que nas amostras dos dois grupos de pacientes
havia dois tipos diferentes de núcleo: um em que a cromatina estava
mais frouxa e outro em que o material genético estava mais
condensado.
“Nas amostras das mulheres que tiveram filhos, a quantidade de
núcleos com a cromatina mais condensada foi muito maior. Isso
sugere que houve uma modificação epigenética intensa nessas células
e isso permaneceu até a menopausa”, afirmou Mello.
As modificações epigenéticas correspondem a um conjunto de
processos bioquímicos disparado por estímulos ambientais que moldam
o funcionamento do genoma e, consequentemente, o perfil fenotípico,
por meio da ativação ou desativação de genes. Metaforicamente, é
possível comparar o genoma ao hardware de um computador e o
epigenoma ao software que faz a máquina funcionar.
Entre os mecanismos epigenéticos conhecidos estão a metilação
do DNA – que ocorre quando há adição de um grupo metila (formado de
partículas de hidrogênio e carbono) à base citosina do DNA, podendo
impedir que alguns genes se expressem – e a modificação de histonas
– relacionadas à adição ou subtração de grupos acetila e metila aos
aminoácidos que formam essas proteínas.
No trabalho realizado no Fox Chase Cancer Center, os
pesquisadores focaram sua atenção em dois tipos de modificações de
histonas e encontraram um número muito maior de resíduos da
proteína metilados nas amostras das mulheres que tiveram
filhos.
“Aos comparar os dois grupos, encontramos diferença no padrão
de expressão de 298 genes. Há cerca de duas a três vezes mais genes
metilados no tecido das mulheres que tiveram filhos. Isso mostra
que a gestação induziu uma reprogramação local e silenciou alguns
genes que poderiam ser inadequados, como aqueles relacionados à
proliferação celular”, afirmou Jose Russo, do Fox Chase Cancer
Center e autor principal do trabalho.
Segundo Russo, essas alterações na expressão dos genes também
modificaram a forma como as células produzem certas proteínas e
processam o RNA mensageiro.
“A mama após a gravidez adquire uma assinatura genômica e um
perfil fenotípico diferente. Acreditamos que são essas mudanças que
fazem com que a mulher fique mais protegida contra o câncer”,
disse.
Gravidez precoce
Os resultados confirmam achados de pesquisas anteriores
conduzidas pelo grupo de Russo, segundo os quais as células da mama
só se diferenciam totalmente quando recebem o estímulo dos
hormônios da gravidez.
“Descrevemos anteriormente que existem quatro tipos de lóbulos
– as estruturas funcionais da mama responsáveis pela produção do
leite. O tipo um é o mais pobremente desenvolvido, como se fosse
uma árvore sem folhas durante o inverno. O tipo quatro é o mais
desenvolvido, seria a árvore em seu esplendor. Somente no fim da
gravidez os lóbulos atingem o nível quatro. Durante esse processo,
a glândula mamária se diferencia. As células-tronco ali presentes
assumem sua função e isso parece induzir o remodelamento da
cromatina”, explicou Russo.
Mas para que a gravidez tenha de fato esse efeito protetor,
ressaltou o cientista, é preciso que a diferenciação celular ocorra
precocemente, entre 18 e 24 anos. “As células-tronco são mais
suscetíveis à ação de carcinogênicos, como tabaco, álcool e
radiação, do que as células diferenciadas. Quanto antes ocorrer a
diferenciação, portanto, menor é o risco de as células sofrerem
mutação”, explicou Russo.
Ciente, no entanto, de que a tendência é as mulheres adiarem
cada vez mais a primeira gestação, o pesquisador tem se dedicado a
testar um coquetel de hormônios capazes de mimetizar o efeito da
gravidez e estimular a diferenciação das células mamárias.
“Em ratos já vimos que isso é possível e de fato confere
proteção contra o câncer. Mas em humanos ainda não sabemos”, disse
Russo.
Com informações da Revista Fapesp
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
Redação CNTTL
Mídia Consulte Comunicação &Marketing
Editora e Assessora de Imprensa: Viviane Barbosa MTB 28121
WhatsApp: 55 + (11) 9+6948-7450
Assessoria de Tecnologia da Informação e Website: Egberto Lima
E-mail: viviane@midiaconsulte.com
Redação: jornalismo@midiaconsulte.com
Siga a CNTTL nas redes sociais:
www.facebook.com/cnttloficial
www.twitter.com/cnttloficial
www.youtube.com/cnttl
Mídia
Canal CNTTL
Boletim Online