Foi
Thatcher, logo seguida por Reagan, quem passou a disseminar, pela
primeira vez na segunda metade do século XX, a ideia de que a
existência de sindicatos era ruim. Muitos, naquela passagem dos
anos 1970 para os 80, acreditaram na tese ou não a refutaram com a
devida veemência. Talvez por não ter vivido ou esquecido as
experiências de notável recuperação econômica europeia e
estadunidense no período Pós-Guerra, em que a ação do Estado e o
fortalecimento do mercado de trabalho – e consequentemente do
sindicalismo – foram essenciais para um longo ciclo de
prosperidade.
Tanto a então chamada Dama de Ferro quanto o ator hollywoodiano
eleito presidente tiveram a seu lado uma máquina de propaganda
pró-neoliberalismo que até hoje produz seus efeitos no imaginário
coletivo.
Num mundo tal como o conhecemos, o enfraquecimento dos sindicatos
não é bom para ninguém, mesmo que temporariamente isso traga alguma
vantagem para um grupo ou outro. No longo prazo, a consequência
negativa se abaterá sobre todos – salvo o sistema financeiro, caso
os governos nacionais ajam como atualmente mundo afora.
Hoje, nos EUA, menos de 12% dos trabalhadores são sindicalizados
(na iniciativa privada, menos de 7%), contra a taxa próxima de 30%
da era pré-Reagan. O país levou a sério o desmonte proposto e
iniciado naquele governo, que teve entre seus marcos iniciais a
propalada vitória contra a greve dos controladores de voo em
1981.
Em grande parte por isso, os salários passam por sistemático
achatamento desde então. Segundo dados do departamento de trabalho
dos EUA, o aumento real (acima da inflação) dos salários acumulado
desde 95 foi de apenas 6%. Esse empobrecimento atingiu todas as
categorias, colocou a classe média no corner, levando-a a níveis de
endividamento brutais, e conduziu o país à crise. Esse processo é
bem retratado pelo filme “Capitalismo: uma História de Amor”, de
Michael Moore. Uma vez mais a tese, forjada no século XVIII, de que
a capacidade individual é o único motor da história, comprova-se
falsa.
Na Inglaterra, onde o empenho de Thatcher em derrotar o movimento
sindical foi uma das marcas de sua gestão, as coisas tampouco
melhoraram por isso. Nesta semana, a Trades Union Congress (TUC)
divulgou estudo que mostra os salários caminhando abaixo da
inflação. Em certas regiões, a perda anual dos trabalhadores ativos
em relação ao que ganhavam em 2010 supera quatro mil libras
esterlinas. São pessoas consumindo menos. Empresários vendendo
menos.
São resultados da recente crise internacional, causada justamente
pelo ideário econômico, social, político e ideológico que tiveram
em Thatcher e Reagan seus maiores arautos e que tem como uma das
premissas o enfraquecimento dos sindicatos.
O caso mexicano também é dramático. Sindicatos atacados
sistematicamente, com a ajuda muitas vezes de esquemas criminosos,
e um Estado cada vez mais recuado. Nem mesmo um liberal, desde que
ilustrado, defenderia tal combinação, que poderia ser definida como
“cleptocapitalismo”.
A crença de que “gente competente” não precisa de sindicato é
falsa. Ou todos os cidadãos estadunidenses sem emprego hoje não são
bons o bastante? Os roteiristas de Hollywood, responsáveis pelos
diálogos e histórias dos filmes e seriados que fazem sucesso
planetário, não caíram nesse engodo e fizeram uma vitoriosa greve
de 100 dias entre 2007 e 2008, obrigando a indústria a
negociar.
João Cabral de Mello Neto criticou com argúcia característica a
pretensa solidão realizadora dos trabalhadores ao falar daqueles
“de profissões liberais que não se liberaram jamais”.
Aqui no Brasil, o movimento sindical teve um importante papel
quando os efeitos da crise econômica chegaram por aqui. Nossa
recusa em participar de acordos de diminuição de salários ou
suspensão preventiva de contratos ajudou e tem ajudado o país a
enfrentar o problema. Acredito que a estrutura sindical
brasileira precisa de aperfeiçoamentos, mas querer prescindir dela
é loucura.
*Escrito por Artur Henrique, secretário-adjunto de Relações
Internacionais da CUT e presidente do Instituto de Cooperação da
CUT (artigo originalmente publicado na Carta
Capital)
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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