Em entrevista
ao Portal Carta Maior, divulgada na terça-feira, 21, o
ex-Procurador Geral da República nomeado pelo governo Lula, agora
aposentado pelo Ministério Público, Claudio Fonteles, fala sobre o
trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e reforça a
importância da mobilização social para uma real superação dos
desafios postos. Entre eles, destaca a criação de uma cultura que
nunca mais admita o Estado ditatorial e que repense o papel das
Forças Armadas. “A CNV em si e por si, sozinha, não vai a lugar
nenhum, não vai fazer absolutamente nada, o resultado será zero”,
introduz o assunto.
O ceticismo é, em parte, prudência diante do enorme desafio posto à
CNV e de reconhecimento de seus limites legais. Mas também é uma
provocação. “O fundamental é criarmos uma rede de cidadania de
sorte que não só a nossa geração, mas a geração dos meus filhos,
dos meus netos, dos meus bisnetos, dos bisnetos dos meus bisnetos,
ou seja, que crie-se no Brasil uma cultura, que seja internalizada,
de nunca mais admitirmos isso”, vislumbra.
O discurso de Fonteles é um apelo à mobilização social. “Caixa de
ressonância”, “grande voz dos segmentos sociais”, “motor
propulsor”, “rede com capilaridade nacional” são adjetivos
recorrentemente projetados por ele à CNV. Diante de uma comissão
legalmente circunscrita à narração da violência do estado
ditatorial brasileiro e à proposição de recomendações para
enterrar-lo, Fonteles sabe que a força vinda de fora da CNV é quem
determinará a legitimidade das proposições de seu colegiado e a
profundidade com que serão incorporadas política, administrativa e
juridicamente pelo Estado. Da mesma forma, reside nesta força a
capacidade de mudança em um âmbito tão enfatizado pelo
ex-procurador-geral: na cultura, na memória, na consciência
histórica da sociedade brasileira. “Se nós conseguirmos fazer algo
semelhante com o que os judeus fazem com o holocausto, ganhamos”,
idealiza.
Para tanto, a CNV vem realizando audiências públicas em diferentes
partes do país, reunindo-se com os mais diversos atores para
criação de canais de diálogo direto e motivando a criação de
comissões ou comitês locais sobre a temática. Exceto Rondônia e
Roraima, todos os estados já criaram uma ou mais instâncias desse
tipo.
Para ampliar a divulgação e garantir a memória da própria comissão,
Fonteles planeja propor à EBC, órgão público de comunicação, a
documentação das atividades do colegiado e a produção e veiculação
de programas sobre a temática. A inspiração veio do “Diário da
Constituinte”, programa de TV, com áudio também utilizado pelas
rádios, produzido pela Radiobrás – o “embrião” da atual EBC. O
programa foi criado por decisão da Assembleia Nacional
Constituinte, com intuito de ampliar o debate sobre a nova
Constituição e foi veiculado entre 1987 e 1988, com cinco minutos
de duração.
Trabalho
Dentro da comissão, Claudio Fonteles afirma haver bastante harmonia
de trabalho. Porém, elenca algumas adversidades fora dela. Em
primeiro, destaca que a tradição do desrespeito às urnas ainda é um
fantasma que paira sobre o continente, vide as recentes derrubadas
dos presidentes do Paraguai e de Honduras e as tentativas de golpe
na Venezuela, Bolívia e Equador.
Outro obstáculo está na Polícia Federal, que há três anos criou um
núcleo exclusivamente para estudar as ossadas que possam vir a ser
ou não de guerrilheiros, mas até o momento não emitiu qualquer
parecer à CNV. “O ministro [da Justiça] falou que vai mandar o
pessoal da perícia conversar conosco”, informou Fonteles.
A investigação é espinhosa e trabalhosa, demandando muito cuidado,
relata o ex-procurador-geral, para não adentrar no sofrimento de
famílias que já não desejam saber de seus entes perdidos ou para
não cair em denúncias-blefe. Uma demanda muito recebida pela
comissão são pedidos para rever decisões da Comissão da Anistia.
“Isso não nos cabe”, esclarece.
O passo final da CNV será definir uma lista de recomendações com o
fim de “prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não
repetição e promover a efetiva reconciliação nacional”, diz a lei.
Fonteles almeja recomendações com aplicação concreta, mas não cita
ainda nada específico, se restringe a dizer que é importante
trabalhar a ideia de que ninguém é contra a missão verdadeira das
Forças Armadas. “Temos que começar a trabalhar uma visão de
Exército, uma visão de Aeronáutica, uma visão de Marinha, uma visão
de Polícia. Temos que pegar toda a base e propor”,
conclui.
Com informações da Agência Carta Maior
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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