O Portal da
CNTT/CUT-SP divulga nota de repúdio da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) contra o golpe de Estado isntaurado no
Paraguai. O novo presidente, Federico Franco, assumiu o poder dia
22, após um processo de impeachment de Fernando Lugo. Em discurso,
o ex-pesidente Lugo afirmou que aceitava a decisão do Senado. O
povo, no entanto, tem se unido contra o novo
governo.
Deter o golpe
no Paraguai!
É
tensa e lamentável a situação enfrentada pelo heroico povo do
Paraguai. A democracia e os avanços sociais estão sendo ameaçados
pelos setores mais conservadores e retrógrados da sociedade
paraguaia. Está em execução um golpe de Estado dirigido por uma
minoria privilegiada, por uma elite empresarial e uma oligarquia
latifundiária, que cresceu e enriqueceu durante os 35 anos da
ditadura militar de Alfredo Stroessner.
Os
grandes meios de comunicação do Brasil, da América Latina e do
mundo estão, naturalmente, em silêncio. Entretanto, graças às redes
sociais e a iniciativas como o canal Telesul (www.telesur.net) tem
sido possível acompanhar os acontecimentos ao vivo. É importante
lembrar que desde 2009 o presidente Fernando Lugo vem denunciando
permanentes ações dos setores ultraconservadores para destituí-lo.
Faltando nove meses para novas eleições presidenciais, a elite e os
partidos de direita estão desesperados frente à iminente
possibilidade de continuidade do governo.
Nesta
quarta-feira, dia 21 de junho, em uma sessão relâmpago, 76 dos 80
deputados paraguaios aprovaram a abertura de um processo de
impeachment contra o presidente. Os “argumentos” golpistas foram
apresentados hoje e se pretende que o mandatário seja julgado e
condenado amanhã, sexta-feira, até o final do dia. Quando pensamos
que já vimos de tudo na América Latina surge algo novo. Trata-se de
uma modalidade rara de golpe de Estado, sustentada por uma
manipulação grosseira do poder legislativo. Houve três abstenções e
a deputada Aida Robles, do Partido Participação Cidadã, foi a única
que votou contra o julgamento-farsa.
A
sessão parlamentar teve refinados toques de circo. Os deputados
resolveram que amanhã, entre as 12h e as 17h30, se realizaria uma
nova sessão. Conforme o estabelecido, o presidente Lugo teria duas
horas para apresentar a sua defesa. Depois disso, os parlamentares
propuseram analisar as “evidências” e anunciar o resultado.
Obviamente, caso se leve a cabo este julgamento-farsa, o mandatário
será destituído. Poucas vezes um parlamento de qualquer país do
mundo tomou uma decisão tão importante em tão poucas horas. Isso
não tem outro nome. É um golpe de Estado.
Entre os
“motivos” apresentados pelos golpistas, prevalece o assunto do
enfrentamento da semana passada, em Curuguaty, que causou a morte
de 11 camponeses e seis policiais, além de haver deixado 50
feridos. Na ocasião, 100 famílias tentaram ocupar terras do
latifundiário Blás Riquelme, ex-senador do Partido Colorado. Houve
um tiroteio e este é o pano de fundo do golpe. Um dos parlamentares
chegou a culpar Fernando Lugo de “cometer os piores crimes desde a
Independência". Ou o deputado foi vítima de uma impressionante
falta de memória ou tem o rabo preso com a feroz ditadura de três
décadas.
O
caso de Curuguaty ainda não foi totalmente esclarecido, mas já
existem inúmeras suspeitas de envolvimento de franco-atiradores que
teriam disparado contra camponeses e policiais. Seria mais uma
aplicação do chamado “crime de bandeira trocada”, a mesma
estratégia tantas vezes utilizada na região para justificar
intervenções e golpes. Se bem a insatisfação da oligarquia
latifundiária com o governo Lugo venha de longa data, recentemente
houve um fato novo. O Serviço Nacional de Qualidade e Sanidade
Vegetal e de Sementes (SENAVE) não autorizou o uso comercial da
semente transgênica da Monsanto no país. Neste contexto, tem
ganhado destaque a figura de Aldo Zuccolillo, diretor proprietário
do poderoso diário ABC Color e sócio principal da Cargill do
Paraguai. O empresário opera em conjunto com a União de Grêmios de
Produção (UGP), insinuando-se como uma possível liderança
política.
Escutar as declarações e “acusações” dos deputados golpistas paraguaios gera uma mescla de sentimentos, que vão do espanto ao nojo. Comportaram-se como legítimos papagaios de Washington, portadores de um discurso digno da Guerra Fria e porta-vozes dos interesses da classe mais poderosa. Acusam o governo de “comunista”. Não faltaram patéticas referências à “paz”, à “liberdade” e à propriedade privada. Expressam, repetidas vezes e sem qualquer pudor, um profundo ódio às ações democratizantes do atual governo em benefício das classes populares, historicamente excluídas no país mais pobre da América do Sul.
De acordo com o Partido Popular Tekojoja, a iniciativa de realizar um julgamento deixa “evidente quem esteve por trás do massacre de camponeses e de policiais. Os principais beneficiados daquela tragédia agora revelam os seus verdadeiros interesses. Estão utilizando um acontecimento lamentável para atentar contra a democracia, o presidente e o povo paraguaio”.
Neste momento, uma missão oficial da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) está em Assunção reunida com o presidente paraguaio. Viajam os ministros de Relações Exteriores de Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Além disso, dezenas de milhares de paraguaios vindos de todas as regiões se dirigem às portas do parlamento na capital. Lugo, em cadeia nacional, afirmou que “o povo paraguaio saberá responder a esta ação de um setor egoísta que sempre concentrou privilégios e que agora não quer compartilhar os benefícios”. Finalizou dizendo que não renunciará e que saberá “honrar o compromisso assumido por meio da vontade das urnas”.
Como se sabe, Fernando Lugo é um ex-bispo católico, seguidor da Teologia da Libertação. Conta com o apoio de importantes movimentos sociais, mas sua maior debilidade parece estar no fato de não contar com uma estrutura partidária consolidada e organizada. Diversas iniciativas do governo têm sido boicotadas pelo parlamento opositor. Inclusive a entrada da Venezuela no Mercosul, amplamente vantajosa para a integração regional, está sendo trancada pelos deputados paraguaios há mais de cinco anos.
Somente a mobilização popular pode frear o golpe. Apenas para fazer referência ao período mais recente, que não se repita um golpe de Estado similar ao perpetrado sobre o presidente Manuel Zelaya, de Honduras, em 2009. E que prevaleça a vontade popular, a mobilização e a resistência, como ocorreu na tentativa frustrada de derrubar o presidente Rafael Correa, do Equador, em 2010. Ao mesmo tempo, espera-se que as Forças Armadas do Paraguai sejam dignas de suas fardas, livrem-se de uma vez por todas do fantasma da ditadura de Stroessner e se mantenham ao lado do povo.
Com informações da CUT Nacional
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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